segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Associação Moçambicana de amparo a pessoas albinas - ADOD's

           Princesinhas moçambicanas em instituição que ampara crianças albinas abandonadas
 Sorrindo e orando como anjos..
     Hoje existe em Moçambique um esforço continuo para acabar com o preconceito contra os albinos, eles sofrem todo tipo de discriminação, agressões psicológicas, abandono, entregas para rituais de magia. As mães sofrem muito com agressão e abandono por parte de seus companheiros pois acreditam que a criança é fruto de traição.

 Segue a entrevista na íntegra com porta voz da instituição ADOD's:

 Que tipo de apoio presta a ADOD’s?
 Com o cartão de associado emitido por nós, o albino passou a ter assistência médica e medicamentos a tempo e horas. Também esforçamo-nos por incutir nos jovens o gosto pelo estudo, fazendo com que eles percebam que a maior ajuda que cada um pode oferecer a si próprio é aderir à educação, à escola, o que muitas vezes não acontece devido aos problemas de discriminação e de visão.
Temos tido casos de pais que retiram os filhos da escola só porque estes são albinos, para não serem perseguidos por outros colegas. Nós tentamos fazer todo esse trabalho de consciencialização. Infelizmente, o nosso raio de acção ainda é muito restrito, mas queremos apostar muito nisso porque pensamos que é a melhor maneira de ajudar as pessoas, inclusive no famoso espírito de auto-estima, uma vez que os albinos são pouco sociais o que dificulta as coisas.
Muitas vezes não concorrem a vagas de emprego porque pensam que não vão ser aceites. É aí que nós temos um papel muito importante a desempenhar.


Salum Khalfani Bar' wani, primeiro albino a ser
 membro do parlamento da Tanzania
 










   Quais os principais problemas que chegam aqui à associação?
 Para além da questão da saúde, que é motivada pela falta de informação, não sabem, por exemplo, que não podem andar desprotegidos do sol, que devem fazer consultas regulares à vista, há a discriminação no seio da própria família. Há pais que abandonam filhos, há lares desfeitos porque as mulheres geraram filhos albinos.
Tivemos até um caso de um membro da direcção que o marido tentou matá-la porque o filho nasceu albino. A ideia dele é que a mulher o traiu e gerou aquele filho, porque aquele filho albino não podia ser dele. Outro dos grandes problemas é motivado pelo obscurantismo, ligado a crenças tradicionais.
Há quem diga que os albinos são mortos porque acreditam que os seus cabelos são fonte de enriquecimento ou o seu sangue cura certas doenças. Também tivemos informação que em Cabo Delgado há pais que vendem os filhos albinos.

Quais são os cuidados especiais que um albino deve ter?
Segundo os médicos, e baseando-me um pouco na minha própria experiência, não pode de modo algum, expor-se ao sol, deve ter consultas regulares de dermatologia e oftalmologia porque já tem um problema de visão de nascença. Todo o albino deve usar óculos. A nossa visão é muito sensível à luz e à noite não vemos nada. Acho também que nenhum de nós vê muito bem ao longe.

 Há alimentos que devem ser evitados?
(AG) – De acordo com os médicos não existem alimentos a evitar. O que acontece é que uma alergia na pele causado por determinado alimento num albino toma proporções muito maiores, causando muitos mais estragos do que numa pessoa normal.

 Há também aquela crença de que o albino nunca morre, mas antes desaparece?
 Essa é outra das nossas batalhas. Acho que em alguma zona deste país, em algum momento, desapareceram crianças albinas e essa crença foi incutida na sociedade local. Dizia-se que as crianças tinham desaparecido e nunca mais voltariam. Em Nampula falava-se também que os albinos nunca são enterrados.

 Já lhe reportaram muitos casos de violência?
Física nem tanto, mas psicológica e social, têm-nos chegado muitos casos.

 Como por exemplo?
As crianças são retiradas do seu meio social e isoladas, negando-lhes o direito à educação. Isto é uma grave violação dos direitos humanos. Há igualmente muitos casos de abandono, principalmente da parte do pai.


Desde 2007 até hoje há registo de 50 albinos assassinados na Tanzânia. Não teme que o mesmo possa acontecer aqui em Moçambique?
 Claro que tememos, até porque somos vizinhos. Por coincidência, esta questão da Tanzânia surge mais aguda quando já tínhamos começado com o movimento da criação da associação e penso que isso desencorajou um pouco essas práticas que foram condenadas em todo o mundo.
Acreditamos que fizemos alguma coisa para refrear essa violência. Mas, é óbvio, pode não ser suficiente.

 Na mesma Tanzânia, também foi recentemente eleito um deputado albino para o parlamento. Como viu essa eleição?
 Sem dúvida alguma que é um marco histórico digno de menção. Mas, para ele ter sido eleito, é porque reuniu todos os requisitos necessários. E
Esta eleição é uma forma de mostrar àquela sociedade que o albino possui as mesmas capacidades dos outros. Era bem que isto fosse replicado para outros países.

 Acha que Moçambique poderia um dia eleger um presidente albino?
 Porque não! Tendo essa pessoa capacidades não há razão para descartar essa hipótese.